Nos 48 anos do 25 de Abril de 1974, tantos quantos durou a ditadura, não posso deixar de reforçar uma ideia que me invade quando recordo a vitória das forças golpistas do 25 de Novembro de 1975.
Não pactuando com a versão oficial da “tentativa de golpe dos comunistas” que juntou PS, PPD e CDS numa histeria que contaminou um grupo de militares “moderados”, é hoje claro que o resultado de tal acção nos conduziu a uma sociedade manipulada, doente e dominada por corporações, seitas religiosas, grupos e individualidades corruptas e corruptoras.
A marcha iniciada às 4 da tarde do glorioso dia 25 de Abril de 1974, foi interrompida para dar lugar a uma viragem política que, por vezes, me conduz a uma reflexão sobre como teria sido a evolução dos tempos se Marcelo Caetano tivesse conseguido levar por diante a sua tão “ingénua” evolução na continuidade…
Se calhar contaríamos hoje com o mesmo presidente da república actual e teríamo-nos transformado numa “Federação Colonial”, num regime político partidário assente em partidos de “democratas” defensores do estado de direito representativo, mas com alguns presos políticos “perigosos” na cadeia, sindicatos corporativos e o folclore do costume para entreter o povo.
Felizmente isso não aconteceu mas foi por um triz… Desde cedo se percebeu que o projecto pessoal encarnado por Spínola apontava para isso. Quem se opôs desde a primeira hora à extinção da PIDE e exerceu pressão para não soltar “todos” os presos políticos, assim como adiou a descolonização, sabia bem o queria e revelou-o logo na madrugada do golpe de estado quando, na Pontinha, disse ao grupo de comando para regressar aos quartéis que ele tratava do resto.
Sobre a intenção de condecorar Spínola
Desde o início do mês Abril deste ano que venho a assistir a um correr de “notícias” sobre a intenção do actual presidente da república de condecorar (entre outros) anti-fascistas e militares que viveram os dias da libertação, incluindo o primeiro presidente da “Junta de Salvação Nacional” pós-25 de Abril que mais tarde tentaria vários golpes contra o processo democrático, chegando ao ponto de fugir do país num helicóptero da FAP (constituindo isto um crime punível pela lei militar que o regia), posteriormente alimentado e organizado a contra-revolução dando corpo aos bandos de assassinos da extrema-direita que contam hoje com um parlamentar.
Já referi várias vezes que tudo isto é possível pelo branqueamento dos crimes do regime fascista que nunca foram julgados, assim como todos os outros crimes perpetrados depois do 25 de Abril de 1974 por criminosos instalados nos mais variados sectores da sociedade. A tão falada corrupção, com políticos por julgar e crimes por punir só podia conduzir a uma situação como a que vivemos: A descrença na justiça e no regime dito “democrático”.
Espero que os anti-fascistas propostos a serem condecorados com a “Ordem da Liberdade” não pactuem com tal situação e tenham a coragem de enfrentar esta afronta.
Nos 48 anos do 25 de Abril de 1974 presto a minha homenagem, mais uma vez, a todos os militares, activistas, militantes dos partidos que apoiaram o processo revolucionário, nas fábricas, nas empresas, nos bairros, nos campos e em todos os sectores da sociedade não esquecendo a saúde e a educação públicas.
Como eles, continuo a acreditar que havemos de viver melhor num mundo livre dos Imperialismos e do capitalismo mundial que está em agonia e a precipitar a Humanidade para uma catástrofe.
Viva o 25 de Abril!
Viva o Poder da Cidadania!
Morte ao fascismo e a quem o apoia!
Nota: Anexo a este “post” um texto que encontrei no espólio de um companheiro já desaparecido, O Carlos Filipe, companheiro e membro da comissão de trabalhadores nos tempos da Rádio Renascença ocupada. Embora não tivesse conseguido encontrar referências sobre o autor, o texto descreve muito bem como o 25 de Abril teve uma influência decisiva na guerra colonial, principalmente na Guiné, reforçando a minha indignação na figura de Spínola.